quinta-feira, 17 de março de 2011

QUEM POLICIA A POLÍCIA?

QUEM POLICIA A POLÍCIA?- Outras Páginas, José Aparecido Miguel, Jornal do Brasil, 01/03/2011


Governar, obviamente, não é simples, fácil. Há governo, reflexo de sua sociedade, nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.



Vamos aos fatos: dia sim, outro também, quase uma constante, o noticiário revela a insegurança que o cidadão brasileiro vive diante de autoridades que o deveriam proteger. Os desmandos das forças de segurança, para ficar no mínimo, espalham-se pelo Brasil. No Rio, policial vende armas para traficantes. Em Minas Gerais, inocentes são executados. A matança se repete em Pernambuco. 



CASOS EMBLEMÁTICOS



Mais dois casos emblemáticos e também recentes: em São Paulo – apresentado como o Estado mais desenvolvido do país – um estudante da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Júlio César Grimm Bakri, 22 anos, é assassinado em um bar próximo da faculdade; outro jovem, Christopher Akiocha Tominaga, 23 anos, que o acompanhava, é gravemente ferido. 



O episódio, como se nota e repercute, envolve gente acima do salário mínio de R$ 545 mensais. Foi na semana passada – e a polícia logo apresentou um suspeito, porque ele, aparentemente, mancava como um dos autores do crime, ambos vistos em um vídeo de segurança na área do bar.



"ESTRELISMO"



O advogado Adinaldo Martins – em texto que ele mesmo colocou no JBWiki!, dia 28 – critica o estrelismo da polícia. Martins escreve que deu entrevista sobre o tema para Thiago Samora, da rádio Jovem Pan. “O leitor, olhando o vídeo que mostra o crime, notará que em nenhum momento, quando chegam ao local do delito, quaisquer dos dois criminosos “mancam”, exceto no instante da fuga”. 



Mais: “Considerando que Dino (Dino Fernando Peporine, de 28 anos, que passou duas noites na cadeia) informou ter sido atendido pelo Hospital Sepaco, da Vila Mariana, em dias anteriores ao fato, e por conta do seu ferimento, seria fácil a aferição de que ele estava falando a verdade. Por que isso não foi investigado?”.



NA SORTE



Dino, que se machucou numa partida de futebol, considerou-se azarado. O advogado Martins comenta que “não fosse a sorte de uma enfermeira denunciar um criminoso no hospital, onde foi encontrado o verdadeiro assassino, e estaríamos diante de mais uma grande e grave injustiça. Isso não pode acontecer e a polícia precisa exercer de maneira limpa o seu papel”. 



Agora, Dino quer saber quem o denunciou.



O Estado de S. Paulo informou, dia 28, que o autor do crime (Francisco Macedo da Silva, 24 anos) foi preso e, segundo a polícia, confessou o assassinato de Júlio César Grimm Bakri, e a tentativa de homicídio contra Christopher Tominaga. Policiais do 4.º Distrito Policial(Consolação) sabem que o segundo atirador (Valmir Valentino da Silva, 19) é irmão do homem que prenderam. Ele está foragido.



Sabe-se agora, 1º de março, que a Polícia só identificou um deles, Francisco, porque portava sete munições ao ser atendido em hospital, na Vila Alpina, com ferimento na perna, segundo a Folha de S. Paulo. Eles atiraram contra os jovens porque mexeram com a namorada de Valmir, diz a polícia.



ESCRIVÃ NUA



Dois delegados paulistas, com a participação de uma guarda civil, são os personagens de um escândalo que ainda repercute na internet. Eduardo Henrique de Carvalho Filho e Gustavo Henrique Gonçalves, ambos da Corregedoria da Polícia Civil, tiraram a calça e a calcinha de uma escrivã que era investigada pelo crime de concussão, quando um servidor exige o pagamento de propina. (Cabe à Corregedoria apurar denúncias contra policiais.)



O vídeo do abuso policial - ao longo dos 12 minutos da filmagem, a escrivã diz que só retiraria a roupa para policiais femininas -, acontecido em junho de 2009, foi divulgado pela TV Bandeirantes. Os delegados encontraram, nas partes intimas da mulher, quatro notas de R$ 50.



“UM POUCO DE EXCESSO”



A Corregedoria da Polícia Civil arquivou o inquérito que investigava o caso, enquanto hoje já há suspeita de que a cena do dinheiro tenha sido forjada, para incriminar a escrivã (demitida).



“Foi um excesso desnecessário. Ela só não queria passar pelo constrangimento de ficar nua na frente de homens”, disse Fábio Guedes da Silveira, advogado dos delegados.



Segundo a corregedora Maria Inês Trefiglio Valente, eles agiram “dentro do poder de polícia”. Ela os caracterizou como “corajosos e destemidos”, segundo a Folha de S. Paulo. 



O promotor público Everton Zanella, ouvido no inquérito, disse que a retirada da roupa foi uma consequência do transcorrer da operação. “Houve apenas um pouco de excesso na hora da retirada da calça da escrivã, todavia, em nenhum momento vislumbrei a intenção do delegado que comandava a operação de praticar qualquer ato contra a libido da escrivã”.



PUNIÇÃO



A ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário pediu a punição dos policiais que despiram e revistaram à força a escrivã.



Diante da revelação e repercussão do caso, dia 24, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, destituiu a corregedora-geral da Polícia Civil, Maria Inês Trefiglio Valente. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, Valente será transferida para a Delegacia Geral de Polícia Adjunta.



Os delegados Eduardo Henrique de Carvalho Filho e Gustavo Henrique Gonçalves continuam trabalhando na Corregedoria da Polícia Civil. 



PARA NÃO ALARMAR



A Folha, em manchete (1º de março), escreve que funcionário do Estado negocia dados sigilosos em São Paulo. "Sociólogo usa em sua empresa de consultoria informações secretas sobre a violência; ele diz que tem permissão". 



Fico curioso em saber que, no caso, o sociólogo Túlio Kahn, que é chefe da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento) repassa a clientes informações cuja divulgação é vetada, “para não alarmar o público”. "Entre elas, estão que tipo de bens é levado com maior frequência em assaltos a condomínio de São Paulo e quais os furtos mais comuns na região de Campinas".



É de alarmar, mas recorro ao colunista Fernando de Barros e Silva - embora trate de um dia de chuva em São Paulo - para questionar: "O que pensar e esperar quando a tragédia urbana parece já incorporada à vida da cidade". 



Da cidade e da sociedade.

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