domingo, 1 de maio de 2011

A corrupção desmata


Poucos identificam com clareza a relação nefasta entre práticas como o suborno e a tentativa de erguer uma economia sustentável


Anos atrás, visitei o diretor-gerente de uma empresa de produtos eletrônicos em Tóquio. Um colega japonês, que me acompanhava, sugeriu que comprássemos chocolates no caminho para presentear nosso anfitrião. Imagine meu desconforto quando, no mesmo dia, aquele empresário tão importante – e com a devida cerimônia – me presenteou com uma minicâmera. Atento às diferenças culturais, aceitei. Contudo, assim que retornei a Londres e contei à nossa equipe o que havia acontecido, decidimos adotar uma política muito clara: nada de presentes acima de um determinado valor.
No início da minha carreira, trabalhei para as Nações Unidas no Egito e constatei que a corrupção ali era endêmica, embora não se tratasse exatamente de suborno. Entre os assessores da equipe havia um ex-ministro do governo (conhecido como “Sr. 5%”) e um ex-prefeito do Cairo (“Sr. 2%”).
Muita gente fica surpresa com o fato de que considero o suborno e a corrupção elementos típicos da agenda da sustentabilidade. Isso acontece porque elas não conseguem ver a relação entre uma coisa e outra. É interessante observar que quando a GlobeScan e a SustainAbi-lity entrevistaram especialistas em sustentabilidade, no ano passado, eles apontaram praticamente uma dúzia de problemas que consideram urgentes ou muito urgentes – mas a corrupção não fazia parte dessa lista.
Práticas ilícitas estão por trás de mazelas como a escassez
de água ou o agravamento das condições climáticas

Contudo, seja qual for a prioridade escolhida entre as 12 identificadas – escassez de água potável, mudança climática, pobreza ou instabilidade econômica, entre outras –, a corrupção é quase sempre um fator que contribui para a existência desse cenário. Basta pensar nas indústrias que emitem grandes volumes de carbono e no lobby que fazem junto aos governos para que não aprovem regulamentos favoráveis ao clima. Outro exemplo que me veio à mente em visita recente que fiz à Grécia é o de milionários ou bilionários que procuram meios que lhes assegurem pagar pouco ou nenhum imposto em seus países de origem.
Basta pensar também nos relatórios escandalosos do Serviço de Gestão de Minerais dos Estados Unidos (MMS), órgão responsável – antes da explosão da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México – pela supervisão da indústria de petróleo, acusado de estar a soldo dessa mesma indústria. Bem antes do desastre, o MMS já era conhecido pelas festinhas de embalo regadas a sexo e cocaína que promovia entre autoridades do governo e executivos da indústria do petróleo.
É bom lembrar ainda a compra de votos protagonizada pelo Japão antes do encontro da Comissão Internacional da Baleia (International Whaling Commission), em que representantes de países menores foram subornados com dinheiro e prostitutas para que dessem respaldo a uma matança ainda maior de baleias. Em síntese, é preciso entender que a corrupção encurta a escala de tempo reservada ao raciocínio de quem toma decisões.

*John Elkington é fundador da SustainAbility

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