domingo, 26 de junho de 2011

A cada 20 dias, um policial é preso por contrabando no PR

Nos últimos oito anos, cerca de 150 agentes foram detidos por facilitar a entrada de mercadorias ilegais do Paraguai no Brasil
Foz do Iguaçu - Rota do transporte de mercadorias do Paraguai, as estradas do Oeste do Paraná tornaram-se chamariz para a corrupção policial. Nos últimos oito anos, a região foi palco da maior parte das prisões de agentes envolvidos com o crime de contrabando e descaminho no estado. Somadas, as detenções de policiais federais, rodoviários federais, civis, militares e guardas municipais, desde 2003, passam de 150. Isso equivale a dizer que a cada 20 dias um policial é preso no estado em investigações de contrabando.
Na maior parte das situações, os policiais, pagos para evitar a entrada de mercadorias ilegais no país, foram surpreendidos ao receber dinheiro para fazer o contrário. Eles liberavam carros de passeio e ônibus com produtos que entraram no Brasil sem o pagamento do imposto devido – crime de descaminho – ou carregados de mercadorias com entrada proibida no Brasil, o que caracteriza contrabando, como é o caso do cigarro.
Operações
A corrupção policial nas estradas do Oeste paranaense é recorrente. Foz do Iguaçu, por exemplo, já foi palco de diversas ações na qual a polícia prendeu polícia:
12 mar 2003 – A Operação Sucuri prende 23 policiais federais, três fiscais da Receita Federal e dois policiais rodoviários federais sob acusação de receber propina para liberar a passagem de carros com contrabando na Ponte da Amizade. Outros nove contrabandistas também foram detidos. Os policiais foram condenados pela Justiça, mas recorreram. Hoje, exercem funções administrativas.
9 dez 2003 – A Operação Trânsito Livre detém 38 agentes da Polícia Rodoviária Federal, um policial federal, um policial civil e outras dez pessoas. Os servidores recebiam dinheiro para liberar da fiscalização ônibus que carregavam mercadorias contrabandeadas do Paraguai. As prisões foram feitas por cerca de 200 policiais federais que chegaram a Foz do Iguaçu na noite anterior em um avião Hercules.
16 abril 2010 – A Opera­ção Desvio, desencadeada pelo Gaeco, resulta na prisão de 28 pessoas, incluindo 13 policiais civis e um guarda municipal.
7 jun 2011 – Dois policiais rodoviários estaduais são presos no Paraná na Operação Loki por suspeita de receber dinheiro para facilitar a passagem de veículos contrabandeados na Região Sudoeste. Outros cinco agentes são detidos em Santa Catarina.
Opinião
Baixo salário não justifica corrupção policial
Luís Antonio Fancisco de Souza, coordenador do Observatório de Segurança Pública da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp)
A corrupção é um problema crônico no Brasil em várias instituições. Embora haja até um anedotário em torno da corruptibilidade do policial em razão dos baixos salários, não creio que esta seja uma explicação satisfatória. Em geral, a corrupção ocorre pela certeza da impunidade. Manifesta-se em instituições que têm tradição em não responsabilizar seus funcionários por este tipo de comportamento, o que provoca uma espécie de cultura da corrupção. Sem culpabilização e com a aceitabilidade tácita deste tipo de comportamento, tudo isto aliado à vulnerabilidade das vítimas - que não denunciam em razão de estarem já na ilegalidade - temos este quadro danoso. O problema é que a corrupção forma um círculo vicioso do crime que se alimenta do crime.
O combate à corrupção deve ser feito em várias frentes: jurídica, política, social, institucional e cultural. Jurídica no sentido de que os aparelhos policiais têm que criar e fortalecer as corregedorias e ouvidorias. O Ministério Público e o poder Judiciário precisam ser efetivos na persecução criminal dos responsáveis.
Na esfera política porque não é necessário apenas leis mais duras contra a corrupção. A classe política precisa dar o bom exemplo - infelizmente estamos longe disto no Brasil.
Na frente social em razão da necessidade de mostrar os custos sociais da corrupção e sobretudo porque a corrupção é mão de muitos outros vícios.
A corrupção também precisa ser combatida institucionalmente porque é preciso criar mecanismos que estimulem o bom comportamento e responsabilizem as faltas. Nem sempre as nossas instituições fazem isto, certo?
É necessário combater a corrupção no âmbito cultural. Neste aspecto, é preciso aumentar a consciência do problema e dar um basta à cultura do jeitinho brasileiro que se acomoda a estes tipos de comportamentos e os normaliza. Ou seja, a tarefa não é fácil, sobretudo porque quem se corrompe é exatamente quem precisa aplicar a lei e as instituições de aplicação da lei são as mais corruptíveis.
Na Polícia Federal (PF) foram 28 agentes presos no estado por envolvimento com os crimes de contrabando e descaminho. Destes, 23 em uma só ação, a Operação Sucuri, há oito anos, em Foz do Iguaçu. Na Polícia Rodoviária Federal (PRF), esse número chega a cinco nos últimos cinco anos. Mas, em 2003, um grupo de 38 agentes da corporação foi detido na Operação Trânsito Livre, também em Foz. Eles foram acusados de receber propina para liberar ônibus de sacoleiros que transitavam pela BR-277 (leia box nesta página).
Na esfera estadual, a maior parte das ações é feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Desde que começou a atuar, em 2003, o Gaeco já processou e prendeu cerca de 170 policiais militares, civis e guardas municipais na região de Foz do Iguaçu. Pelo menos 85 deles estavam envolvidos em casos de contrabando.
Cenário favorável
As infrações envolvendo policiais na Região Oeste ocorrem em um cenário que predispõe a atividade ilícita. Conforme a Receita Federal (RF), hoje um carro de passeio é apreendido com uma média de R$ 15 mil em mercadorias contrabandeadas, embora possa levar uma quantidade maior em valores, conforme o tipo de produto. Um ônibus fretado transporta de R$ 50 mil a R$ 200 mil.
Os contrabandistas não atuam na fronteira com cargas inferiores a R$ 10 mil. Por isso, para não perder as mercadorias, sai muito mais barato pagar propina aos policiais, diz Rudi Rigo Burkle, promotor do Gaeco.
Com base nas investigações e prisões feitas pelo Gaeco na região de Foz, o envolvimento dos policiais com o crime ocorre de duas formas. Eles recebem dinheiro para liberar as cargas ou ficam com parte da mercadoria.
Burkle diz que muitas vezes quem está fazendo o transporte da mercadoria não é o proprietário, mas sim um “laranja” – a pessoa contratada para fazer o serviço. Em certas ocasiões o laranja não dispõe de dinheiro, por isso cede parte da mercadoria aos policiais para evitar a apreensão total dos produtos.
A outra modalidade de corrupção, a mais comum, envolve pagamentos semanais ou mensais feitos pelos contrabandistas aos policiais em determinados pontos de estradas rurais, usadas como rota de desvio de alguns postos de fiscalização policial na BR-277.
Esse foi um dos esquemas desmontados durante a Operação Desvio, em abril de 2010. A ação resultou na prisão de 30 pessoas, incluindo 13 policiais civis e um guarda municipal.
A facilidade de praticar atos ilícitos na fronteira causa cobiça entre os servidores. Segundo o Gaeco, um dos policiais presos na Operação Desvio pagava outro servidor para substitui-lo na escala de serviço de outra cidade paranaense, onde estava lotado para poder vir a Foz do Iguaçu participar do esquema de corrupção.
Dificuldade para obter provas contra a polícia
Os processos contra policiais corruptos esbarram na dificuldade de colher provas e depoimentos que os incriminem. “Se ficar só na palavra dos contrabandistas envolvidos, você não consegue condenar. É preciso buscar outros elementos porque as pessoas voltam atrás nos depoimentos”, diz o promotor do Gaeco Rudi Rigo Burkle. Os criminosos relutam em denunciar os policiais porque sofrem represálias mais tarde e porque podem agravar a própria situação, sendo processados por corromper os agentes de segurança. Outro complicador é a Lei 12.403, que em breve entrará em vigor e dificultará as prisões. Pela lei, qualquer crime cuja pena máxima seja de quatro anos passa a ser passível de fiança na delegacia, como é o caso do contrabando.
Mesmo diante do combate ostensivo à corrupção, há casos de reincidência. Em Foz do Iguaçu, um mesmo policial já foi detido em mais de três operações do Gaeco. Isso ocorre porque a maior parte dos policiais presos acaba voltando ao trabalho. Segundo os promotores do Gaeco, todas as medidas preliminares à condenação são de difícil manutenção em razão do princípio da presunção da inocência. Normalmente, o servidor é afastado e transferido para o trabalho administrativo interno. A situação perdura por tempo limitado e o policial acaba voltando para a rua em razão do déficit existente nas corporações.
Para o coronel da reserva e ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo, Rui César Melo, é preciso estabelecer medidas práticas para evitar a corrupção. Ele defende a realização de rodízios para o policial não ficar mais de dois anos na mesma função. “Um policial que trabalha nessa área de fronteira não deveria ficar mais que dois anos em um serviço como este”, diz.

sábado, 4 de junho de 2011

EUA criticam abuso policial e combate à corrupção no Brasil

Em um relatório divulgado no mês de Abril, o Departamento de Estado americano criticou o Brasil por supostos abusos de direitos humanos cometidos pelas polícias estaduais e por falhas no combate à corrupção.
Segundo o relatório anual sobre direitos humanos do Departamento, com dados relativos a 2010, "execuções extrajudiciais cometidas pelas polícias estaduais (militar e civil) foram frequentes, particularmente nos populosos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro".
As críticas são as mesmas já feitas nos relatórios dos anos anteriores. Alguns trechos do capítulo dedicado ao Brasil são exatamente iguais aos do documento divulgado no ano passado.
Segundo o Departamento de Estado, "em muitos casos, policiais empregaram força letal indiscriminadamente durante apreensões".
"Relatos confiáveis indicam o contínuo envolvimento de oficiais de polícia estaduais em mortes por vingança e na intimidação e morte de testemunhas envolvidas em processos contra policiais", diz o texto.
UPPs
O relatório cita relatos da organização não-governamental Anistia Internacional ao afirmar que a implantação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras) em favelas no Rio "reduziu significativamente a violência em dezenas de comunidades".
Apesar disso, ainda segundo a Anistia Internacional, "o policiamento no Rio de Janeiro continua a depender de métodos repressivos".
Entre os problemas relacionados aos direitos humanos no Brasil identificados no relatório estão ainda as más condições das prisões no país, apesar de esforços em alguns Estados para melhorar a situação dos centros penais.
O documento cita problemas como abusos por parte de guardas, falta de atendimento médico e superlotação.
Outros temas do Brasil citados no relatório são violência e discriminação contra mulheres, incluindo abuso sexual; tráfico de pessoas; casos de discriminação contra povos indígenas e minorias; problemas de implementação de leis trabalhistas e casos de trabalho forçado e de trabalho infantil no setor informal.
Corrupção
Assim como no documento divulgado no ano passado, o relatório mais recente critica o Brasil pela "relutância e ineficiência em processar funcionários do governo por corrupção".
Segundo o relatório, apesar de a lei brasileira prever punição criminal para oficiais corruptos, "o governo nem sempre implementou a lei de maneira eficaz, e oficiais frequentemente praticaram corrupção impunemente".
O texto cita indicadores do Banco Mundial ao afirmar que "a corrupção continua a ser um problema grave" no Brasil.
O Departamento de Estado menciona ainda ameaças à liberdade de imprensa, ao citar dados da ANJ (Associação Nacional de Jornais) sobre "o crescente número de decisões judiciais proibindo a imprensa de relatar certas atividades".
Em um resumo sobre a situação brasileira no ano passado, o documento diz que aqueles que violaram direitos humanos "geralmente desfrutaram de impunidade".
Resposta
O secretário-adjunto para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho dos Estados Unidos, Michael Posner, reconheceu o "comprometimento" da presidente Dilma Rousseff com a questão dos direitos humanos, mas disse que ainda há muito a fazer no Brasil a esse respeito.
"O relatório, a meu ver, reflete um quadro misto. Um governo central, uma nova presidente com um claro comprometimento com essas questões. Mas, em nível local, uma série de questões ainda precisam ser resolvidas", disse Posner.
Em nota divulgada nesta sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que não se pronunciaria sobre o conteúdo de relatórios "elaborados unilateralmente por países, com base em legislações e critérios domésticos, pelos quais tais países se atribuem posição de avaliadores da situação dos direitos humanos no mundo".
O Itamaraty lembrou ainda que as avaliações do relatório não incluem a situação no próprio território americano e em outras áreas sobre os quais o governo dos Estados Unidos tem jurisdição.
No comunicado, o Ministério diz que o Brasil "reitera seu comprometimento com os sistemas internacionais de direitos humanos" e diz que "permanecerá engajado no mecanismo de Revisão Periódica Universal do Conselho de Direitos Humanos", criado para avaliar situações de direitos humanos nos países-membros das Nações Unidas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sobe para seis o número de policiais civis presos em operação contra contravenção no Rio

Delegado e policiais civis cobravam propina de bicheiros


O número de policiais presos por envolvimento em um esquema de cobrança de propina de contraventores e empresários em troca de benefícios em investigações chega a cinco, além de um agente penitenciário da Secretaria de Administração Penitenciária.
A ação, batizada de Operação Alçapão, foi deflagrada  às 4h pela Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol)e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco).
Segundo informações do MP, além de quatro policiais civis, um delegado e um agente da Seap, outros quatro homens ainda estão sendo procurados no Rio, na Baixada e em Niterói.

Delegado
Segundo informações da assessoria da Polícia Civil, a identidade do delegado capturado ainda não foi divulgada. Ele foi capturado em sua casa, na Tijuca, e não resistiu à prisão. Ele foi levado para a delegacia anti-sequestro, onde vai passar a noite. Na quinta-feira, vai seguir para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, o Bangu 8. 
Os demais presos estão na sede da Corregedoria, na Zona Portuária, onde devem prestar depoimento.
As investigações, segundo o corregedor Gilson Emiliano, foram iniciadas depois da divulgação de imagens da Polícia Federal que mostram a atuação do jogo do bicho próximo a delegacias. 

Marco Lira, da Viradouro, escapa
Procurado na sua casa em Camboinhas, Niterói, o ex-presidente da Viradouro Marco Lyra, não foi encontrado. Segunbdo funcionários do condomínio, ele já não mora mais no local há 3 meses e teria vendido o imóvel por R$ 1 milhão. A polícia encontrou  máquinas caça-níqueis e documentos da Viradouro, que foram levados para análise. 
Os alvos da operação foram denunciados por crimes como quadrilha armada, prevaricação e corrupção. A denúncia do Gaeco foi recebida pela 3ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo que, além da decretação das prisões preventivas, também atendeu aos requerimentos do MP para realização de buscas em 29 endereços e afastamento dos réus de suas funções públicas.

Policiais militares são detidos suspeitos de tentar arrombar caixa eletrônico em SP

SÃO PAULO - Três policiais militares foram presos na madrugada deste sábado suspeitos de tentar roubar um caixa eletrônico. Dois policiais foram presos em flagrante dentro de uma agência do Banco do Brasil, no bairro do Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. O terceiro policial foi preso horas mais tarde. Com eles, os policiais encontraram um pé de cabra, uma furadeira e um artefato explosivo, que seria usado para explodir o equipamento. Eles são suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em roubar caixas eletrônicos.
De acordo com os policiais civis do Grupo de Operações Especiais (GOE) que atenderam a ocorrência, na Avenida Armando Arruda Pereira, os PMs encobriram uma câmera de vigilância do banco com um pano. Funcionários da central de monitoramento que faz a segurança da agência notaram e chamaram a polícia. Os policiais encontraram os PMs escondidos na cozinha da agência, com duas armas. Eles invadiram a agência pelos fundos.
Segundo o policial do GOE, Alexandre Oliveira, as armas foram encontradas num carro usado pelos policiais, que estava estacionado no banco.
- Chegamos e cercamos a agência. Depois, descobrimos que um terceiro policial tentou avisar os comparsas, através de uma mensagem de celular, que nós estávamos chegando. A mensagem era "Oula fora que sujou" - disse Oliveira.
Os PMs foram encaminhados ao presídio Romão Gomes. Eles têm 5, 8 e 13 anos de tempo de serviço na corporação.
Só este ano, mais de 50 caixas eletrônicos foram arrombados na região metropolitana de São Paulo. A maioria, com explosivos. Com a onda de ataques a esses equipamentos, a Associação Comercial de São Paulo está recomendando a estabelecimentos como farmácias, padarias e supermercados que não renovem os contratos com os bancos e deixem de oferecer o serviço. Nesses estabelecimentos comerciais, há pouca segurança e os equipamentos ficam muito expostos. Segundo a Associação Comercial, em todo o estado, passam de 200 os ataques a caixas eletrônicos desde janeiro.
Para tentar inibir a ação dos bandidos, muitos bancos instalaram um dispositivo que mancha as cédulas de rosa quando ocorre a explosão. É uma tentativa de inutilizar as notas. O Banco Central recomenda à população e os comerciantes em geral que não aceitem notas manchadas com a tinta rosa.