sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

PF investiga policiais paulistas. Parte das autoridades convive com a criminalidade

Em matéria de capa, o jornal Folha de S.Paulo informa da suspeita da Polícia Federal com relação a policiais civis lotados nas delegacias de narcóticos (Denarc) e de investigações criminais (Deic). Esses policiais, segundo a matéria, estariam extorquindo traficantes internacionais com atuação em São Paulo, e deles já obtiveram, indevidamente, R$ 3 milhões.
Caso se confirmem as suspeitas, o fato não representa novidade em São Paulo.
O antigo operador em São Paulo do colombiano e potente Cartel do Cale Norte, Juan Carlos Ramirez Abadia, só foi preso por exigência da agência norte-americana Drug Enforcement Administration (DEA). Ele passou anos sem ser molestado e a corromper autoridades.
Quando preso, Abadia declarou que o combate ao narcotráfico em São Paulo só teria seriedade quando o governo do Estado fechasse o Denarc para balanço. Como se sabe, Abadia foi rapidamente entregue aos EUA, sem tempo para indicar os corruptos do Denarc. Com a sua expulsão e entrega à DEA, a apuração morreu. Só para lembrar, a  DEA só revelou onde se encontrava Abadia em São Paulo depois de fechado um acordo informal de que seria rapidamente expulso do Brasil e entregue aos EUA.
Quando da Conferência sobre Crime Organizado realizada em 1994  pelas Naçõe Unidas em Nápolis, o então secretário-geral da ONU observou: “A criminalidade organizada coexiste com o Estado. E parte das autoridades convive com a criminalidade”.
Não precisa ser especialista para saber  do poder corruptor planetário da criminalidade organizada de matriz mafiosa: no planeta, as apreensões de drogas pelas forças de ordem  estão estimadas entre 3% e 5% do ofertado no mercado. Na realidade, nada.
Três dias atrás, logrou-se prender o chefão-camorrista do clã da cidade de Casal di Principe. O “boss” camorrista Michele Zagaria, 53 anos, ficou 15 anos foragido da Justiça e da polícia, sem nunca ter saído de Casal di Príncipe. Por evidente, usava do poder corruptor e da intimidação geradora da denominada “lei do silêncio”.
Vamos aguardar pela conclusão da investigação da Polícia Federal e a eventual expulsão de agentes que extorquiam traficantes internacionais.
Um filósofo italiano contemporâneo observou, com inteiro acerto: “A corrupção é crime gravíssimo porque priva de legitimação as instituições democráticas”.
Wálter Fanganiello Maierovitch

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