domingo, 10 de março de 2013

Operação prende traficantes e policiais corruptos no RJ


Uma operação contra o tráfico de crack no Morro da Providência ordenou nesta sexta-feira 72 mandados de prisão: 49 para traficantes do local, incluindo três menores de idade, e 23 para policiais do 5º Batalhão da Polícia Militar. Cada guarnição do 5º Batalhão recebia até R$ 200 diários para não coibir o tráfico de drogas nos bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde, além da própria Providência, apontam as investigações.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro decretou a imediata prisão preventiva dos policiais, “sob risco de descrédito das instituições”.  
A Providência está pacificada desde abril de 2010, quando uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi instalada na comunidade. O Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, garantiu que os policiais da UPP não sabiam da investigação na favela, encaminhada primeiramente pela Delegacia de Proteção a Criança e Adolescentes (DPCA), devido ao tráfico de crack na região, e depois pela Secretaria de Inteligência do Estado, que descobriu o envolvimento de policiais militares no esquema.
“Qualquer manual de operação policial conta que o segredo é a alma do negócio. Então, eu acredito que os policiais não sabiam de nada do que estava acontecendo ali”, afirmou Beltrame, que foi enfático sobre a possibilidade de envolvimento de soldados da UPP no esquema criminoso. “Se a investigação mostrar que eles estavam envolvidos, serão punidos”, afirmou o secretário, visivelmente irritado com a pergunta.
Casarões do tráfico
Na operação, os policiais descobriram que os traficantes usavam “casarões do tráfico”, que funcionariam como “quartéis generais da droga”. Dois foram destacados: um na rua Sacadura Cabral e outro na rua Barão de São Félix, no centro do Rio.

“As portas eram reforçadas para dificultar a entrada da polícia aos locais, onde eram guardadas as armas e drogas. Daí vem o nome Operação Fortaleza. Era de lá que os vendedores, muitos menores de 18 anos, saíam para a venda”, explicou a delegada titular da DPCA, Bárbara Lomba.
Segundo ela, o lucro era considerável: cada uma das mais de 10 cargas vendidas por dia rendia aos traficantes cerca de R$ 1100.
Corrupção policial
As negociações entre os policiais e os traficantes da Providência ocorriam no Bar Flórida, na Praça Mauá, onde foi preso há cerca de dois meses o traficante Carlos Henrique de Araújo Martins, o “Careca”. Anderson Carlos Reis Martins era quem repassava as quantias destinadas ao pagamento de propinas diárias aos militares.

“Podemos dizer que os envolvidos nas denúncias foram vistos pelo menos três vezes cometendo este crime”, esclareceu Fábio Galvão, subsecretário de Inteligência do Estado.
Frederico Caldas, Relações Públicas da PM, relatou números alarmantes: 143 foram expulsos da corporação em 2011, e, em 2012, o número mais que dobrou: 347 deixaram a corporação. O número preocupa, mas ao mesmo tempo tranquiliza Beltrame. “Não comemoro, mas é um sinal de que algo está sendo feito”, disse o Secretário de Segurança.
Caldas explicou que os envolvidos serão submetidos ao Conselho de Disciplina da PM e, se for comprovada a culpa, expulsos da corporação. Ao ser perguntado sobre a hierarquia militar, que não permite que nada seja feito dentro de um batalhão sem a permissão de um oficial, ele disparou: 
“Duvido que haja uma corporação que trate a corrupção como nós estamos tratando. Não podemos permitir isso, e é claro que esse aumento mostra que não estamos tolerando desvios de conduta”.
Saldo da investigação
A investigação começou em maio de 2012, com foco no combate ao crack. “A Polícia Civil tem tido atenção especial com o comércio de crack na região portuária.  Nossas unidades móveis foram muito importantes nessa missão”, explicou a delegada Martha Rocha. A coordenadora do tráfico na região, Andréa Vieira de Oliveira,  conhecida como “Tia”, foi presa na manhã desta sexta, fora do Morro da Providência. 

Segundo Bárbara Lomba, delegada titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente,  ela era a responsável pela emabalagem e venda do material. “Chegamos a ela através de pessoas que não se identificaram”, disse Barbara, que explicou ainda como ocorria o tráfico na região. “A venda de drogas não é ostensiva, assim como o uso de armas. Havia um esquema para saber como não cruzar com os soldados da UPP, por exemplo”, explicou Lomba, que falou ainda sobre a atuação de Evanilson Marques da Silva, o Dão, conhecido como o chefe do tráfico no Morro da Providência há muitos anos.
“Ela ainda se reportava a ele, costumava chamá-lo de “Patrão”. Ele ainda toma decisões na favela”, explicou ela sobre Dão, que está foragido atualmente.
Com Milena Teixeira, uma das embaladoras, foram apreendidos quase 2,5 kg de crack. O morro da Providência funcionava como um entreposto de venda de drogas, de onde era distribuída pelo centro da cidade. A droga vinha de outros morros pertencentes ao Comando Vermelho, que também comanda a região.
Os adolescentes eram usados para facilitar a soltura em caso de prisão. “É uma estratégia deles sim, isso está muito claro. E tem muitos outros menores também nessa situação. Só enquanto nós investigávamos, três completaram 18 anos”, lamentou a titular da DPCA. 
Fonte http://noticias.terra.com.br

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